Textos, entrevistas, palavras e pensamentos publicados no noveletras.blogspot.com foram apagados por invasores. Da noite pro dia meu antigo blog sumiu. Como não vou poder usar o mesmo nome, estou de volta em novo endereço. Muito do que escrevi lá vocês vão poder ler aqui. Obrigada pela visita!!

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Entrevista ponto-com

Rose: Você faz comentários na TV, tem programa na Rádio, escreve para dois jornais, faz palestras e ainda encontra tempo para uma série de outros compromissos como, por exemplo, essa entrevista aqui. Quem é você, Luiz Carlos Prates?

Prates: Não sou muito afeito a pândegas, mas a resposta que posso dar é não sei. Se soubesse, talvez fosse um sujeito mais em paz comigo mesmo. Tento descobrir, mas acho que será uma luta inútil. Se me perguntasses do que mais gosto, diria que é de justiça. A cada um segundo suas obras, vale para mim. Quando erro, pago. Não chio. Fui burro, pago.

Rose: Você se considera hoje um jornalista-psicólogo ou um psicólogo-jornalista?

Prates: Considero-me, antes de mais nada, um observador dos costumes, sou mais psicólogo que jornalista. Juntando psicologia e jornalismo, acho que dá um casamento de boas qualidades, de vida intensa.

Rose: Achar pautas diárias e interessantes não é tarefa fácil. É um trabalho incansável, um verdadeiro garimpo da informação. Nós jornalistas sabemos que não dá pra ignorar nem mesmo a leitura de um rodapé de página. Sei que você é um leitor voraz. Mesmo assim de onde vem a inspiração para “alimentar” os comentários que você faz diariamente em três veículos de comunicação?

Prates: A leitura farta e diversificada me dá a matéria-prima de onde vem as “inspirações” mas é do olhar atento aos fatos do cotidiano que surgem os “roteiros” de assuntos. Claro que o assunto encontrado precisa ser respaldado por ideias já de prontidão na memória, como resultado das leituras que podem mais e melhor ilustrar o que foi achado nas mais diversas formas de observação.

Rose: As pessoas estão ficando mesmo cada vez mais complicadas e vazias ou isso é só mais uma impressão minha?

Prates: As pessoas andam sem norte existencial, isto é, sem razões por que lutar. Faltam-lhes sonhos, virtudes, valores, suas vidas andam vazias, só preenchidas, quando o são, por bens materiais. Espiritualidade está em extinção, vale hoje o ter e nada ou muito pouco o ser. Daí as angústias, os vazios, as infelicidades, as drogas, as doenças e a morte antes do tempo...

Rose: Em entrevista à revista Veja o empresário, jornalista e publicitário João Dória Jr disse que prefere caminhar com cães a caminhar com ladrões. Sei o quanto você gosta de cachorros e o quanto fica indignado com a atual situação do nosso país. O que o homem ainda não aprendeu e que já deveria ter aprendido com os animais?

Prates: Os animais são fiéis, nada nos pedem, sacodem-nos o rabinho quando menos o merecemos... Eu também prefiro os cães aos muitos conhecidos que me cruzam pelo caminho das falsidades, todos os dias. Quem tem na vida três verdadeiros amigos, quem? Só quem tem três cãezinhos...

Rose: Você é um dos maiores incentivadores da leitura que eu conheço. Toda hora, todo instante você está escrevendo e falando sobre a importância dos livros na vida das pessoas. O que fazer para tornar a leitura um hábito num país onde a maioria da população não gosta de ler?

Prates: O que se pode fazer é ler e falar de livros e dizer às pessoas que elas podem ser o que quiserem na vida a partir das leituras. Mas é bobagem dizer que pai que lê faz filhos que leem... A leitura é uma descoberta, podemos incentivar, como podemos levar um cavalo ao bebedouro, mas não podemos fazer o cavalo beber água.

Rose: Falta leitura também aos “doutores” do Brasil?

Prates: Universitários não leem, doutores não leem, salvo as escassíssimas exceções. E jornalistas, na regra, são os que menos leem. Leitura é para poucos, ainda que possa, e devesse, ser de todos. É que leitura exige esforços, concentração da mente, exige quietude que os inquietos da preguiça não suportam.

Rose: Dizem que os livros podem mudar as pessoas. Mas é preciso saber que tipo de livro ler. Você arriscaria uma sugestão de leitura para quem quer começar a se apaixonar pelos livros?

Prates: A leitura que recomendo aos que se querem iniciar no “vício” é ler o que primeiro lhes der prazer, sempre deixando a porta aberta para o novo, para a curiosidade. Começa-se com o trivial, com a leitura fácil, prazerosa e passa-se, naturalmente, a textos mais densos. Mas quando isso acontece, o denso torna-se prazeroso, têm-se já aí a capacidade de compreendermos o que é lido. São estágios. Melhor é começar pelos primeiros degraus, evita tropeços de cansaço...

Rose: Se você escrevesse um livro sobre sua filosofia de vida, qual seria o título?

Prates: “Quem não tem talento tem que ter inteligência emocional”, seria o título do meu livro. A desprezível inteligência emocional é a arte de engolir sapos, e quem costuma engolir sapos não tem talento. Os talentosos rugem, bradam, não se conformam, discutem, tornam-se antipáticos. Eu tenho talento? Não sei, sei que não me conforma a linha de montagem das condutas dos pífios que não discutem com seus “senhores” a magnitude da razão, das decências e da justiça de dar a cada um segundo suas obras, ou talentos...

Rose: Você acredita em livros que ensinam fórmulas do tipo “tudo o que se precisa saber sobre ‘alguma coisa’ ”?

Prates: Não, não creio que um livro me possa ensinar tudo de que preciso sobre alguma arte ou ofício. O que o livro, o melhor deles, me pode fazer é “despertar o apetite” por essa arte ou ofício. O resto é comigo, o desbravar a floresta do sucesso e do bom caminho só se acha com as próprias pernas, braços e cabeça. Claro, acima de tudo o coração.

Rose: Há passeatas no mundo inteiro defendendo e pregando o respeito à diversidade disso e daquilo. No fundo, no fundo você não acha que o que as pessoas querem mesmo é ser iguais? Basta olharmos nas ruas... as roupas, os acessórios, as tatuagens...

Prates: As pessoas andam por igual, vestem-se, falam, consomem por igual, não por vontade de ser igual mas por medo de ser desigual. Outras, as mais frágeis, não tendo coragem para andar na contramão dos modismos, juntam-se aos rebanhos dos iguais. No fundo, todos poderíamos ser formidavelmente desiguais, cada um com sua marca registrada. Mas isso nunca vai acontecer, quem não nasce com o grito de independência no peito, segue o caminho da maioria. E a maioria é a maioria.

Rose: Lembrei agora de um comentário que você fez na rádio sobre pessoas que tomam anfetaminas e outras drogas para emagrecer de qualquer jeito. Em determinado momento você disse que as curvas mais desejadas por alguém deveriam ser as curvas da inteligência. Deveriam, mas não são. Por que?

Prates: As pessoas, por razões diferentes, têm, em maioria, baixa auto-estima. E isso as leva a viver de modo ansioso, infeliz. Os remédios para dormir ou ter paz são anestésicos existenciais de que se valem. Mas todas podiam ser belas, belíssimas, se desenvolvessem os talentos de que são possuidoras e não sabem. O problema é que a maioria quer ter os talentos dos outros, desdenhando dos seus. A vida é um teatro, é de Shakespeare a ideia, e se é um teatro, cabe-nos interpretar bem o nosso papel e não o dos outros. Nunca vai dar certo quando trocamos os nossos papéis.

Rose: As pessoas que fazem sucesso no Brasil e no mundo não servem muitas vezes como referência ou como bons exemplos para ninguém. Você acha que os jovens estão se iludindo com essa história de “celebridade instantânea”? Paris Hilton, por exemplo, está sempre em evidência e, acredite, tem quem a admire...

Prates: As celebridades de hoje são, mais das vezes, sim, efêmeras, porque são celebridades assentadas sobre modismos, ou sobre dinheiro fácil e rápido. A verdadeira celebridade é duradoura e assenta-se sobre um valor que só tende a crescer com a passagem do tempo. E essas celebridades resultam de um talento intelectual ou artístico de qualquer tipo. A celebridade de Paris Hilton é a celebridade da beleza, da moda usada ou dos lugares em que ela aparece. Nada mais. Isso não é celebridade, é fugacidade.

Rose: Como você já disse uma vez “a vulgaridade é mais saliente que a virtude”. Sabemos que hoje em dia aparência é o que conta. Carros, casas, roupas e lugares da moda tentam preencher os nadas existenciais de muita gente. Será que um dia as aparências vão mesmo perder a pose? Ou isto já é um problema crônico da humanidade?

Prates: As aparências sempre estiveram na moda, de certo modo, sempre. Não duram, todavia. Elas sempre abrem espaço para novos modismos. As aparências que resultam dos talentos da mente esses são duradouros, provocam invejas, ódios. Quem não pode externar a beleza dos talentos da mente, engana-se, e aos outros, com as aparências que podem ser notadas com os olhos. O talento, a arte, a genialidade sempre serão objetos de admiração e invejas. Exigem, claro, muitos esforços para seu polimento. Os indolentes preferem ignorar seus talentos e invejar os alheios, ou compensá-los com vulgaridades.

Rose: Outro dia num texto você criticou um encontro de mulheres que aconteceu em São Paulo. O tema da palestra era “como não perder o seu homem”. Lembro que você perguntava “por que não se reuniram para discutir sobre 'inabilidades' deles em momentos 'especiais' "? Você dizia também que a maioria das mulheres não tem feito outra coisa senão correr atrás de bobões infantis, com tamanho de homem e comportamento de crianças tolas. As mulheres se preocupam mais com os homens do que eles com elas? Regra geral ou ainda há exceções?

Prates: A mulher está “confinada” em muitos condicionamentos sociais, criados mais das vezes pelos homens, mas sempre concordados por elas. Ao menos no modo de agir. A mulher “tem” que ser mãe, o homem não. A mulher tem que casar, o homem só se quiser... A mulher precisa, ao casar, ser esposa, mãe e amante, o homem não. A mulher tem sempre que acompanhar o homem, o homem não... E isso está, inclusive, na Bíblia. A mulher, enfim, tem que segurar o marido, o homem não tem necessariamente que segurar a mulher, a esposa. São condicionamentos, não é biologia. Mas elas não querem romper com os condicionamentos, não querem.

Rose: Ultimamente tenho visto muitos homens reclamando do trabalho e dos compromissos diários. Posso estar enganada mas eles parecem mais desanimados, mais cansados de cumprir tarefas do que as mulheres. São eles também que apresentam mais atestados médicos e que faltam mais ao trabalho. Você concorda comigo?

Prates: Não, não concordo. Os homens que mais faltam ao trabalho e valem-se de licenças médicas são os do funcionalismo público, protegidos que estão pela malfadada vitaliciedade. Os homens frouxos não lutam, querem mais é qualidade de vida, são os indolentes sem ânimo nem projetos existenciais. O trabalho não realiza tanto a mulher quanto o homem, aí não sei se é só condicionamento cultural ou se há de biológico na questão. Admito que as duas coisas... O homem sem a realização profissional é um frustrado, ele pode dizer que não mas mentirá se o disser. O trabalho é tudo na vida dos homens, dos Homens, quero dizer.

Rose: Problemas, obstáculos e dores de cabeça também podem ser grandes oportunidades disfarçadas?

Prates: Problemas são obstáculos que nos testam o ânimo da causa por que lutamos ou pensamos lutar. Os frágeis acham nos problemas desculpas para não ir adiante. Os obstinados veem nos problemas apenas estágios naturais na caminhada para o topo da montanha do ser. Subir "montanhas" sem percalços é sonho ou ideia de gente fraca.

Rose: Você diz que quem não "casar" por amor, por vocação, com sua atividade profissional estará condenado a passar pela vida gemendo. As pessoas estão sabendo escolher a profissão certa?

Prates: Não, as pessoas não estão sabendo escolher suas profissões, até podem saber o que gostariam de fazer mas não têm, mais das vezes, coragem para assumir seus gostos. Mais das vezes, é o mercado quem decide pela escolha profissional, é a vontade do pai, da mãe, da sociedade. A pessoa pergunta o que é que paga mais, e decide-se. Na verdade, muitas vezes, deixa para trás o seu sonho de vida, e atira-se numa carreira infeliz ou porque ela está na moda ou porque presumidamente pagará mais e melhor...Vivemos a época do sacrificar os sonhos, o ser, pelo ter, pelo parecer ser...

Rose: O que está faltando para melhorar a educação no país? O cidadão está saindo da escola hoje sabendo falar e escrever certo o português?

Prates: O que mais falta para fortalecer a escola é boa estrutura familiar. A boa estrutura de família educa bons filhos, exige bons professores, conhece-os, cobra da escola, forma cidadãos. Os professores vivem sem graça suas missões, ganham pouco, nada tiram de prazer senão o minguado salário, e quem tira do trabalho apenas o ganho financeiro, ganhe o que ganhar, será sempre mal pago. Português é língua em extinção entre os brasileiros, brasileiros que nem sabem mais que língua falam. E os jovens estão cada vez mais estúpidos, falando por monossílabos e grunhindo como bichos. É a moda do "internetês". Vão pagar caro por isso, nas entrevistas de emprego e no tentar profissões que lhes vão exigir proficiência em língua portuguesa.

Rose: E a tão falada reforma ortográfica você acha necessária?

Prates: Não, não acho que seja necessário que se mexa na língua portuguesa, o Brasil tornou-se muito grande para buscar aliança com "pequenas" nações. Precisamos fazer como fizeram os americanos ao se tornarem independentes da Inglaterra. Os americanos criaram o inglês americano, mudaram ortografias, criaram suas expressões idiomáticas e modos de pronunciar. Libertaram-se completamente dos ingleses. O Brasil já tem hoje consagrado o seu português brasileiro. Mexer outras vez nas regras do idioma é caro e inútil. Independência ou... subserviência. Língua pátria é poder.

Rose: A Internet está transformando as relações humanas. O mundo de verdade está sendo substituído, aos poucos, pela fantasia. De alguma forma isso está bloqueando o desenvolvimento das emoções? Você vê mais pontos positivos ou negativos na Internet?

Prates: A Internet é hoje o refúgio dos tímidos, dos fracos, dos sem-coragem. Além de ser uma formidável trincheira de mentiras. TODOS os que entram nesse território da modernidade comunicativa mentem. Enganam-se, não dizem de suas verdades. A Internet só se justifica para saudáveis pesquisas e estudos eventuais. Para mais nada. Claro, mais que tudo, para passatempo de cabeças pobres.

Rose: O que definitivamente te tira do sério?

Prates: O que me tira do sério é a injustiça, o crime não punido com o rigor devido. Justiça malfeita me deixa irado. Vivo, por isso, irado. Ah, e também a falta de gratidão e de cortesias entre as pessoas próximas. Se alguém me presta um bom favor nunca mais o esquecerei, mas a regra é o esquecimento.

Rose: E o que te deixa feliz?

Prates: A realização de um bom comentário ou de um bom texto. E não preciso ouvir elogios para viver essa felicidade. Eu a vivo sozinho, quieto, sei me avaliar nessas questões. É por isso que me envolvo tanto com o trabalho, só ele me produz as endorfinas do prazer.

Rose: Por que morar em Florianópolis?

Prates: Primeiro por circunstâncias profissionais, acidentais. Hoje por legítima opção.

Rose: Qual a pergunta que ninguém fez ainda e que você gostaria de responder agora?

Prates: A pergunta? Não sei. Talvez uma arguta psicanalista me pudesse fazer falar. Arguta, eu disse, daquelas que fazem a pergunta sabendo a resposta...


* Entrevista publicada originalmente em outubro de 2007.


quinta-feira, 13 de maio de 2010

Sob o céu, sobre o mar

Há coisas que já se transformaram em poesia para nossos olhos.












*Fotos da Ponte Hercílio Luz (em Florianópolis) que hoje completa 84 anos.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Sinais do futuro

"A maioria de nós acha que quando há uma intervenção divina, é sempre algo grande. Mas pode ser também uma coisa pequena que parece tão insignificante no momento, mas acaba sendo o ponto decisivo em sua vida.

Grande ou pequeno, e se esse momento afetasse todo mundo, em todo lugar exatamente ao mesmo tempo? O que significaria pra você? Onde procuraria respostas?

Em algum ponto, todos acordamos e temos que escolher.

(...)O desafio que encontramos é reconhecer que as respostas para as perguntas mais inquietantes podem estar na nossa frente."


(Do episódio "Revelation Zero" da série "FlashForward")