Textos, entrevistas, palavras e pensamentos publicados no noveletras.blogspot.com foram apagados por invasores. Da noite pro dia meu antigo blog sumiu. Como não vou poder usar o mesmo nome, estou de volta em novo endereço. Muito do que escrevi lá vocês vão poder ler aqui. Obrigada pela visita!!

domingo, 8 de agosto de 2010

Entrevista ponto-com

Rose: Poeta, escritor, jornalista, professor, blogueiro... Fabrício Carpinejar nasceu para escrever?

Carpinejar: Para morrer com o rosto da página colado na página do rosto.

Rose: Existem ocasiões específicas em que se sente particularmente inspirado? Alguma vez você já teve problemas de não saber o que escrever?

Carpinejar: Eu me sinto inspirado quando não estou inspirado. No meio da diversão, sou tomado por um baque sonoro, o assalto de uma frase, o enredo de uma história, um assobio pedindo coleção. Gosto da espontaneidade do pensamento - quando faz amor no meio de uma sesta. Trabalho minha intuição nas folgas. Folgo minha intuição no trabalho. Não me lembro de estiagem. Talvez agora respondendo a tua pergunta.

Rose: Um livro já nasce pronto na sua cabeça ou as ideias vão sendo construídas aos poucos, página por página?

Carpinejar: Pouco a pouco, prefiro mentalizar, correr o risco de esquecer. Pesco sons. O bom de pescar com lança é que apanhamos, além do peixe, a sombra do peixe.

Rose: Você pensa no leitor quando escreve?

Carpinejar: Eu desejo o leitor quando escrevo.

Rose: Saber que cada leitor pode interpretar o que você escreve de maneiras diferentes te preocupa ou te anima?

Carpinejar: Me salva. Pode encontrar um caminho mais inteligente do que escolhi.

Rose: O escritor Cristóvão Tezza disse que aprendeu a escrever literatura à mão, por influência de Rio Apa, que escreveu todos os livros dele à mão. Ele acha que isso permite a lentidão exata da literatura. Seu processo de criação também tem algo peculiar?

Carpinejar: Meus dentes são tortos. Esse é o meu método. Mastigo as palavras. Vou falando sozinho até ser ouvido.

Rose: “O autor precisa ler o mundo para poder escrever”. Que livros ou escritores foram ou ainda são fundamentais na sua vida? Ou se existisse um “twitter literário” quais escritores você seguiria hoje?

Carpinejar: O autor precisa ler o mundo, e esquecer para reinventá-lo. E depois esquecer de novo o que inventou para ler o que não foi escrito. Eu seguiria José Lezama Lima, Caio Fernando Abreu, Jorge de Lima, Clarice Lispector. E Hilda Hilst, para soltar os cachorros dos olhos.

Rose: Por falar em twitter, o ator Hugh Laurie, estrela da série “House”, diz não entender esse serviço, embora tenha um perfil no microblog. Ele acha que as pessoas deveriam transformar esses 140 caracteres em alguma forma poética e não escrever só banalidades. Como você vê essa nova ferramenta de comunicação?

Carpinejar: Penso o mesmo: os epigramas ressuscitaram. Paladas que se cuide, o século IV está de volta. Twitter é a moldura perfeita para poesia e pensamento, densidade e claridade, mordacidade e provocação. Depende do estofo de cada um.

Rose: Leitor que gosta de um autor vai procurá-lo por todos os cantos. Ao contrário do que se pensava, você acha que a internet valorizou a literatura e o livro?

Carpinejar: Sim, criou uma interação maior. O livro ganhou um amigo imaginário. Antes ele ficava tão sozinho, sem ninguém para brincar ou para contar suas histórias.

Rose: Como aproximar as pessoas da literatura, da leitura, enfim, dos livros?

Carpinejar: Não adiando. Pegando o livro como quem segura uma xícara de café ou abre um jornal, para espiar, por curiosidade. O livro ainda é muito totêmico no Brasil.

Rose: Na “Epístola aos blogueiros” você diz que a diferença entre guardar o inédito no blog e na gaveta é que o blog é uma gaveta aberta. Na sua opinião o blog ainda é uma boa “prova de resistência” pra quem está começando?

Carpinejar: Cada vez mais porque passou o período de encantamento catártico, de uso como diário e muleta da vaidade. Quem tem blog quer fazer literatura, tornou-se um espaço de concentração, exercício responsável da autoria.

Rose: A internet dá voz a indivíduos anônimos. Textos de autoria duvidosa se multiplicam e são repassados numa velocidade incrível. Como você avalia isso? É sinal de avanço ou de perigo?

Carpinejar: Sempre existiu. A forma de evitar é ler um autor e não somente um texto. Avulso para mim é cartão de aniversário. Toda escrita depende de um corpo.

Rose: Você disse uma vez que há muitos grandes autores na internet que não publicaram e são mais escritores do que muitos que estão na estante. O preconceito ainda existe para a chamada "literatura da rede”?

Carpinejar: Existe o preconceito, só que está mudando velozmente. O blog já virou pré-história da rede. Já há uma velha geração de blogueiros, mesmo que eles tenham uma idade inferior a 40 anos.

Rose: Até que ponto você acha importante para um escritor estar num grande centro, em contato com outros artistas e escritores?

Carpinejar: É capaz de facilitar. mas prefiro não estar, porque a dificuldade estimula a fortalecer minha solidão. A periferia da arte faz com que a gente trabalhe bem mais antes do reconhecimento. No grande centro, o reconhecimento vem antes de qualquer trabalho e ficaremos devendo eternamente uma obra-prima.

Rose: “Sempre leio o que você escreve e sei que pode me ajudar...Gostaria de pedir seu conselho(...)”. Você recebe cartas com dúvidas sobre relacionamento no Consultório Poético. O que você aprende nesse contato com os leitores? Você se considera bom entendedor das ‘coisas do coração’?

Carpinejar: O coração depende de um bom pulmão para prender e soltar a respiração. Sou um calígrafo do suspiro, confessor de boteco. Adoro ouvir a letra. No Consultório Poético, defendo o palpite, o convívio, a abertura para a amizade. Não me escondo, eu me mostro tanto quanto aquele que se confessa. Nossa vulnerabilidade é o melhor amparo psicológico que podemos oferecer. Humanizar é permitir o erro.

Rose: As artes plásticas estão muito presentes em seu blog. São mera ilustração dos textos ou as pinturas têm um significado mais profundo?

Carpinejar: Bem mais profundo, às vezes demoro mais tempo escolhendo a pintura do que escrevendo a crônica. No meio do trabalho, já vem a arte que gostaria que me desafiasse. A pintura não é música ao vivo, de fundo de restaurante, é uma oposição dentro do palco. Uma outra voz que mexe com a minha palavra.

Rose: O poeta consegue separar o que ama do que escreve?

Carpinejar: Sim, eu amo principalmente o que não revisei.

Rose: Qual seu ritmo de trabalho hoje? Você se define ainda como um “maratonista de haicais”?

Carpinejar: Eu chego rápido dentro de minha lentidão.

Rose: Você tem mais de 10 livros publicados. Afinal, é mais difícil começar ou terminar uma obra?

Carpinejar: Minhas obras já estão reunidas em meu sangue, apenas continuo a jorrar.


*Entrevista publicada originalmente em julho de 2009.



domingo, 1 de agosto de 2010

Sensibilidade italiana


"Ladrões de Bicicleta"

O diretor Vittorio De Sica é destaque este mês na programação de cinema da Fundação Cultural BADESC, em Florianópolis. Quem ainda não viu filmes como "Ladrões de Bicicleta" e "Milagre em Milão" não pode perder as sessões gratuitas do Cineclube, que reserva espaço para o cinema italiano toda terça-feira, às 19h.

Confira a programação:

03/08
Dois garotos pobres vivem de engraxar sapatos, cultivando o sonho de comprar um cavalo branco. Após cometer um furto, acabam presos num reformatório. É o começo de muitos problemas. O filme levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

10/08
Após a Segunda Guerra, a Itália está pobre e destruída. Ricci consegue um emprego de colador de cartazes, mas teria de ter uma bicicleta. Ao conseguir uma, é furtado no primeiro dia de trabalho e junto com o filho vai em busca da bicicleta roubada.

17/08
Totó viveu em orfanato até os 18 anos. Após esta idade, ele vai morar com miseráveis em um terreno. Ao descobrirem petróleo naquela área, os moradores são ameaçados pelo proprietário. Tudo parece perdido, até que Totó começa a fazer milagres.

24/08
A história de amor engraçada e comovente de Domenico e Filumena, com seus altos e baixos ao longo de 22 anos. Os encontros e desencontros entre os dois se sucedem em uma comovente comédia que é um dos maiores sucessos do cinema italiano.

31/08
Emocione-se com a história de um casal separado pela Segunda Guerra. Após anos sem notícias, ela viaja para a Rússia em busca do marido, atravessando cidades e campos de girassóis. Quando enfim ela o encontra, percebe que algo mudou entre eles.


A programação completa de cinema (alemão, francês, inglês, espanhol, brasileiro...) está disponível no site http://www.fundacaocultural.badesc.gov.br/


A Fundação Cultural BADESC fica na rua Visconde de Ouro Preto, 216, centro.
(48) 3224 8846