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domingo, 21 de março de 2010

Entrevista ponto-com

Rose: Desde quando você, Ricardo de Carvalho Duarte, passou a ser mais conhecido como Chacal?

Chacal: 1965. Seleção Carioca de Voleyball Infantil.

Rose: Você estreou aos 20 anos com cem exemplares mimeografados do livro “Muito prazer, Ricardo”. Com poemas curtos e bem humorados você abriu caminho para a chamada “geração mimeógrafo”. Como era a produção cultural daquela época?

Chacal: A produção cultural que me interessava era a underground. A cena misturava o tropicalismo com o pop internacional. Eu via e ouvia Gal Costa, Caetano, Gil, Luis Melodia, Novos Baianos, um rock ainda incipiente aqui e Dylan, Stones, The Who, Beatles, Zappa lá fora.

Rose: De lá pra cá, na sua opinião, houve mais avanços ou retrocessos na cultura do país?

Chacal: Perdeu-se a ferocidade, a invenção e melhorou a qualidade técnica. O show business tomou o lugar do show happiness.

Rose: O fato de ter sido descoberto por nomes como Wally Salomão, Torquato Neto e Hélio Oiticica deu mais facilidade para você transitar pelo mundo das artes e da literatura?

Chacal: No underground, sem dúvida.

Rose: Poeta, cronista, letrista, autor de teatro, artista. Em qual papel você acha que escreve melhor?

Chacal: Poeta e cronista.

Rose: Você disse uma vez que os poetas precisam parar de lustrar seus umbigos e voltar a falar com seus semelhantes. Os poetas estão se distanciando tanto assim das pessoas?

Chacal: Estão, Rose. Hoje me parece tudo segmentado. Poetas escrevem para poetas. Artistas trabalham para artistas, etc, etc. Talvez por conta da intertextualidade pós moderna. Talvez para garantir seu minguado público, ou melhor, roda de admiradores e amigos.

Rose: Dizem que, ao contrário do que muita gente imaginava, a Internet tem beneficiado o mercado de livros. Você acha que ela tem sido uma boa ferramenta de marketing, de experimentação e de aproximação de escritores com a nova geração de leitores?

Chacal: Não sei precisar. Sei que é uma ferramenta de informação, criação e comunicação extraordinária.

Rose: Levar poesia, música e performance ao público. É para isso que existe o CEP 20.000 (centro de experimentação poética - http://cep.zip.net/ )?

Chacal: O CEP, digamos é a cama, para as pessoas se conhecerem melhor.

Rose: O que deve fazer um artista interessado em participar de toda essa experimentação cultural?

Chacal: Criar apaixonadamente e viver numa dimensão mítica.

Rose: Quais suas leituras preferidas? E quais você recomenda?

Chacal: Poesia. Poesia. Poesia.

Rose: “A poesia de Chacal não precisa de nenhum álibi para existir”, disse Paulo Leminski uma vez. Você está lançando agora em todo o país “Belvedere”, um luxuoso volume que reúne em 384 páginas sua produção de 1971 a 2007. Publicar e ter o trabalho reconhecido ainda é um dos melhores prêmios para quem escreve?

Chacal: O melhor prêmio é ouvir de um desconhecido que gostou de seus poemas. Publicar e ser reconhecido hoje em dia, não é muito mérito.

Rose: Viajar para divulgar o livro é um bom termômetro para sentir o calor e a resposta do público?

Chacal: Sem dúvida. É uma forma de você plantar para um dia, who knows, poder colher. Público de poesia ainda é algo muito raro.

Rose: Qual a melhor dica para quem está começando a escrever?

Chacal: Ler o poema "a poesia é antes de tudo um inutensílio" de Manoel de Barros (in Arranjos para Assobio).

Rose: Posso te pedir uma poesia para encerrar esta entrevista?

Chacal: e as couves ...

e as couves de bruxelas ?

quem

- a não ser eu - ouve elas?

ninguelas

ninguelas


***Entrevista publicada em março de 2008 no meu extinto blog 'noveletras' e também no blog do Chacal http://chacalog.zip.net/arch2008-03-23_2008-03-29.html

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